Rádio Nação Ruralista

sábado, 10 de março de 2012

O Balaieiro

                                                                                  
O BALAIEIRO

       Grijalva Maracajá Henriques*


Hoje quase não se vê mais esse tipo característico de carregador de balaios nas feiras do nordeste.
Ainda me lembro quando ia à feira de Campina Grande, com minha mãe, lá pelos idos de 1950, levando na mão uma cesta feita de taboca, cipó ou de embira, que era pra ajudar a trazer as coisas “quebráveis”.
O balaieiro era sempre um homem forte, suado, camisa aberta ao peito, calças arregaçadas até o meio da canela, sandálias feita com tiras de couro e pedaços de pneus velhos, chapéu quase sempre confeccionado com um resto de bola de couro.
A gente o contratava logo na entrada da feira. Pacientemente, nos acompanhava, de banca em banca, subindo e descendo o balaio sem deixar cair nada e nem a rodilha feita de molambo e amarrada com barbante, que servia para amortecer o peso enorme sobre sua cabeça. Quando a gente pensava que não cabia mais nada, ainda assim, ele dava um jeito de arrumar perigosa e milagrosamente alguma coisinha que o dinheiro ainda dava pra comprar. Havia hora que a gente tinha que lhe ajudar a erguer o imenso balaio.
Mesmo com aquele peso todo sobre seu corpo, não dava mostra de cansaço. Esperava, pacientemente, que minha mãe comprasse um copo de “gelada de coco ou de maracujá”, que eu tomava ligeiro, com pena do homem que esperava em pé e que de tão gelado dava a impressão que toda minha cara estava anestesiada.
Quando dizíamos que acabaram as compras e o dinheiro, ele perguntava o nome da rua e o número da casa, e de repente, numa metamorfose rápida, aquela pessoa calma virava um quase doido, parecia que se acendia uma fornalha dentro dele e saia em disparada, apitando e gritando, - Sai da frente, olha o sangue, cuidado pra não se melar, e continuava a dizer pilherias a guisa de pedir passagem, até minha casa. Eu e minha mãe choutando, correndo às vezes, para lhe acompanhar no meio do povo que não tava nem aí com a zoada que o “Seu Zé” fazia. Por fim, chegávamos a Praça Alfredo Dantas onde morávamos, cansados da correria e das duas horas que a gente (minha mãe) passava, pechinchando ou mesmo brigando com o feirante, em toda mercadoria que comprava.


*Historiador


























Nenhum comentário:

Postar um comentário