Rádio Nação Ruralista

sexta-feira, 16 de março de 2012

O MEU PAÍS




Orlando Tejo*



Um país que criança elimina,
Que não ouve o clamor dos esquecidos,
Onde nunca os humildes são ouvidos
E uma elite sem Deus é quem domina;
Que permite um estrupo em cada esquina
E a certeza da dúvida infeliz;
Onde quem tem razão baixa a cerviz
E massacram-se o nego e a mulher,
Pode ser o país de quem quiser,
Mas não é, com certeza, o meu País!

Um país onde as leis são descartáveis
Por ausência de códigos corretos,
Com quarenta milhões de analfabetos
E maior multidão de miseráveis;
Um país onde os homens confiáveis
Não têm vez, não têm voz nem diretriz,
Mas corruptos têm vez e voz e bis
E o respaldo de estímulo incomum,
Pode ser o país de qualquer um,
Mas não é, com certeza, o meu País!

Um país que perdeu a identidade,
Sepultou o idioma português
E aprendeu a falar pornofonês
Aderindo à global vulgaridade;
Um país que não tem capacidade
De saber o que pensa e o que diz,
Que não pode esconder a cicatriz
De seu Povo de bem que vive mal,
Pode ser o país do carnaval,
Mas não é, com certeza, o meu País!

Um país que seus índios discrimina
E a Ciência e as Artes não respeita,
Um país que inda morre de maleita
Por atraso geral da medicina;
Um país onde escola não ensina
E hospital não dispõe de Raio-X,
Onde a gente dos morros é feliz
Se tem água de chuva e luz do sol,
Pode ser o país do futebol,
Mas não é, com certeza, o meu País!

 Um país que é doente e não se cura,
Triunfal candidato ao quinto mundo,
Que do poço fatal chegou ao fundo
Sem saber emergir na noite escura;
Um país que engoliu a compostura
Atendendo a políticos sutis
Que dividem o Brasil e mil brasis
Pra melhor assaltar de ponta a ponta,
Pode ser o país do faz-de-conta,
Mas não é, com certeza, o meu país!

Um país que dizima sua flora
Ensejando o avanço do deserto,
Pois não salva o riacho descoberto
Que no leito precário se estertorar;
Um país que cantou e hoje chora
Pelo bico do último concriz,
Que florestas destrói pela raiz
E a grileiros de fora entrega o chão,
Pode ser que ainda seja uma nação,
Mas não é, com certeza, o meu país!

*Tejo, Orlando.
As noites do Alvorada: Via Crucis do Caboclo Misterioso/Orlando Tejo.
Recife: Cia Pacifica, 1997.







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