Rádio Nação Ruralista

sábado, 10 de março de 2012

                                                NOTAS BIBLIOGRÁFICAS
                                               RAULINO DE MEDEIROS MARACAJÁ
  (Major Raulino)

Grijalva Maracajá Henriques*

Nasceu na Fazenda Arara, Município de São João do Cariri, no dia 15 de setembro de 1879, numa segunda-feira, às seis horas da tarde e desencarnou no dia 21 de novembro de 1961 na Fazenda são Domingos, de sua propriedade, no Município de Timbaúba do Gurjão (hoje Gurjão) e enterrado na mesma cidade.
Começou seus estudos com a idade de nove anos, lá pela meada do mês de janeiro de 1887, “em casa do professor Demétrio da Costa Ramos, num lugar chamado Figueiras, abaixo de São João do Cariri uns seis quilômetros”, como ele mesmo descreveu.
No ano de 1889, foi estudar na Escola do professor Francisco Tejo na cidade de Batalhão (hoje Taperoá), com seis outros colegas de nomes: Luis Queiroz, José Genuíno (Dr. Zuzú, depois Juiz de Direito de São João do Cariri), Francisco Tejo, Silvino Tejo, e João Carneiro Vieira de Melo, até o ano de 1891.
Em principio de 1892, toda a turma foi transferida para a cidade de Taquaritinga do Norte-PE, acompanhando o “carrasco” professor Tejo, que fora ajudar seu tio o padre Tejo, que adoentado e quase cego, não podia desenvolver os trabalhos na sua paróquia.
Mas uma vez, a turma dos sete colegas se transferiu para João Pessoa, acompanhando o referido professor, até o ano de 1894. Outra vez o seu educador fora convocado pelo tio, mas, desta vez para se candidatar a deputado, por Pernambuco, onde fora eleito.
Mudou-se novamente com seu irmão Luis, de endereço; para a pensão do senhor Leôncio, estudando desta vez com Dr. Antonio Hortêncio, filho do proprietário da casa que os preparou para os exames, onde foram aprovados em Francês e Português. Liceu Paraibano?
Nova mudança se deu no ano de 1895. Desta feita fora morar na cidade do Recife, onde já estudavam seu tio Lucas Maracajá e dois irmãos: Inácio e Abdias, no colégio de Dr. Olinto Victor na Rua da Gloria nº. 33; No final do ano de 1896, após prestar exames em várias matérias: Inglês, Geografia, História do Brasil e História Universal sendo aprovado em todas, com exceção de Matemática.
Nas férias viajou para sua “inesquecida” Paraíba e seu amado Cariri. Não mais voltou, preferiu a dura vida do campo na sua velha Arara dos Maracajás.
No período de 1897, viveu lutando na fazenda com seu pai, Major Patrício de Medeiros Freire Maracajá, até o seu casamento com sua prima Virgínia de Queiroz (Vinú) - filha de José Genuíno Correia de Queiroz (capitão Cazuza).
Com mais esse compromisso, daí em diante teve que tomar outro rumo, pois agora era um homem casado; Casamento este que fora realizado no dia 26 de dezembro de 1901 na cidade de Taperoá. O Civil oficializado pelo Juiz Dr. Elias da Costa Ramos e o religioso pelo padre Paulino Vilar.
 Deste casamento tiveram os seguintes filhos: Luiz Maracajá, Severina Maracajá, Alice Maracajá, Nícia Maracajá, Analice Maracajá e Nélia Maracajá; na época do casamento ela tinha a idade de treze anos, nascida em 18 de janeiro de 1888 e tendo falecida em 5 de junho de 1950 por uma mordida de uma pequena cobra jararaca, num canteiro de verduras ao lado da casa na fazenda São Domingos.
Morou uma temporada com o sogro, na fazenda Pau Leite Município de Taperoá, mas no dia 6 de fevereiro de 1902, seguiu viagem para a Fazenda Nova Vista, município de Timbauba do Gurjão, que pertencia ao seu sogro e que com a morte do mesmo ficou proprietário, por herança. Lá desenvolveu várias atividades agropecuárias, comerciais e industriais.
Criava bois para engorda, vacas leiteiras, cabras e ovelhas, comprando e vendendo na região. Instalou uma beneficiadora de algodão, talvez a primeira movida à “locomóvel”, comprava algodão bruto, descaroçava, prensava e vendia em Campina Grande, ao industrial Demóstenes Barbosa. Montou também um pequeno engenho de açúcar onde também fabricava rapadura e derivados. Mantinha um pequeno comércio na própria fazenda; vendia tecidos e toda sorte de miudezas para o povo da redondeza, onde de mês em mês ia fazer compras em Recife ou em Campina Grande. Tempo depois, comprou a fazenda São domingos que passou os restos de seus dias.
Participava ativamente da vida da sua paróquia. Deixou relatos sobre todos os párocos que haviam passado por ali.
Foi sempre um corajoso, como todos que viveram naqueles tempos, sempre abandonados pelos poderes públicos, tendo que enfrentar as grandes secas, olhando para os céus, atrás de indícios de nuvens que anunciassem chuvas salvadoras para seu querido Cariri. Só fugiu uma vez da danada da seca, descendo para o brejo de Alagoa Nova para escapar da terrível seca, num engenho de um seu primo. Voltado logo que os céus anunciaram as primeiras trovoadas e os relâmpagos como servindo de mensageiros, insistentemente, chamando todos os bravos caririzeiros para recomeçar a luta desigual entre o homem e a natureza.
Participou como Juiz da Paz, na região, resolvendo casos de herança, medições de terras e uma infinidade de problemas sociais; levando os problemas não resolvidos para a Comarca de São João do Cariri, para as autoridades de lá darem uma solução. Às vezes viajavam em caravana mais de cinquenta cavaleiros, junto com o Major Raulino, até aquela cidade, voltando todos satisfeitos com os acordos feitos.
Deixou centenas de trabalhos literários, escritos à mão, “com caneta tinteiro e mata borrão”, em cadernos grossos (tipo Livro Razão), que geralmente dedicava às pessoas de quem gostava e admirava.
Escrevia sobre tudo: pessoas, o tempo, os animais, sua vida, os vícios, os políticos, a politicagem, os padres, biografia dos santos e de brasileiros ilustres, falava das festas, traduzia contos do Francês, criava também frases em latim, produzia pequenas histórias, e mais uma infinidade de assuntos corriqueiros da vida Nordestina.
   Locovóvel (modelo parecido, usado pelo Major Raulino na fazenda Nova Vista)

“Em 1.777, o inventor inglês Matthew Boulton comunicou ao rei George III a construção de um aparelho que revolucionaria o mundo: a máquina de vapor d’água para a geração de energia, que viria substituir totalmente a força muscular humana e de animais a partir do século XVIII. O locomóvel foi usado no início do século, principalmente nas grandes indústrias. Foi também utilizado na produção de energia elétrica primária em muitas cidades”.


Cópia da Carta Patente de Major Cirurgião Raulino de Medeiros Maracajá

PATENTE – (ipsis litteris)

O PRESIDENTE DA REPUBLICA DOS ESTADOS UNIDOS DO BRASIL

Faço saber, aos que esta Carta Patente virem, que por decreto de 9 de Maio de 1912, foi nomeado Raulino de Medeiros Maracajá para o posto de Major Cirurgião da 11ª- Brigada da Infantaria da Guarda Nacional da Comarca de São João do Cariri do estado da Paraíba do Norte e com tal, gozará de todas as honras e direitos inerentes ao posto; pelo que manda à autoridade competente que lhe de posse depois de prestada a solene promessa de bem servir, aos oficiaes superiores que o reconheçam a todos seus subalternos que lhe obedeçam e guardem suas ordens.
Para servir de título, lhe mandei passar a presente Carta por mim assinada, e que se cumprirá depois de sellada com o sello das Armas da Republica.
Palácio da Presidência no Rio de Janeiro em 31 de julho de 1912, nonagésimo 1º. Dia na Independência e vigésimo 4º. Da Republica.

Hermes R. da Fonseca
Ridavia da Cunha Correia

DIRETORIA DA JUSTIÇA DA SECRETARIA DO ESTADO DA JUSTIÇA E NEGOCIOS INTERIORES
PAGOU O SELLO GUIA Nº. 81430
O DIRETOR GERAL
SELINO GOMES
Paraíba 13 de Abril de 1920
Ilmº. Ignácio Evaristo monteiro chefe da 14 delegacia da 2ª. Linha.
Te. Cel. Joaquim Barbosa
Sub. Chefe
Francisco Navarro – Capitão - Secretario.

Registrado a fl. 25 de Liv. 40 de patentes.
Em 24 de setembro de 1912
Miguel pinto Vieira

Prepare-se e registre-se nesta Secretaria Quartel do Comandante Superior da Guarda Nacional na Paraíba em 3 de Novembro de 1912.
Cel. .....................(ilegível)

Prestou compromisso e tomou posse nesta data como consta do termo lançado averso 39 fl. 40 do Livro 1º. De Compromissos.
Secretaria do Comando Superior da Guarda Nacional no Estado da Paraíba em 3 de novembro de 1912

Joaquim da Silva Barbosa
Te. Cor.nel Secretario Geral.
1ª. Delegacia: a 2ª. Linha do Exercito

Paraíba, 5 de Abril de 1919.

* O autor é neto e filho de Nícia Maracajá Henriques.

Fazenda Arara
Fazenda Arara - casa abandonada
Fazenda Nova Vista
                                                                  Fazenda São domingos


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