Rádio Nação Ruralista

segunda-feira, 9 de abril de 2012



COMENTÁRIO DO MARACAJÁ*

DOMINGO, 1 DE JANEIRO DE 2012

Robério Maracajá, com a palavra



Jornal da Paraíba, meu abraço!

PUBLICADO EM 23/10/2011 ÀS 08:00H POR
Robério Maracajá – 17/09/1929 – 08/06/2000

Abro a velha Carteira do Ministério do Trabalho e lá está anotado o meu ingresso no Jornal da Paraíba: 1º de março de 1972. Registro nº038, cargo Redator e um salário de CR$400,00 mensais. O jornal foi fundado em 5 de setembro de 1971. Portanto, eu ingressei no batente, seis meses depois de estar em circulação. E, haja saudade!Rua da Areia e o Bar do Sargento. Um lance de escada, um salão povoado de fauna e flora. Posso me lembrar de todos? A memória, já beirando os setenta, não dá muito arrimo. Mas, nos ouvidos ainda soa a trela das máquinas de escrever. Nos olhos, vagam as imagens dos companheiros, verdes e maduros, alguns já largando a casca. Bichos e flores. Armando Lira, com jeito de seminarista arrependido. Josusmá Viana afobado que nem barbatão na solta. Humberto de Campos dando esturros de onça baleada. Celso Pereira, que teve um “desmaio psicológico”, no Bar do Sargento. Ana Luíza, enfeitada de alegria como um passarinho. Nilda, na doçura de sua tranquilidade. Marcelo Marcos, máquina fotográfica ambulante. Sevy Nunes, na sobriedade caririzeira. William Tejo cutucando os políticos. Orlando Tejo, um busca-pé. Ismael Marinho, fechado que nem corrimboque. Marcos Marinho, um grilo falante. E, quantos mais que me fogem à lembrança? E eu, acuado no meio das feras, como num circo romano.
Depois, a Rua Major Juvino do Ó, eu já longe do batente, mas colaborando com as minhas aventuras crônicas. A fleugma de Mozart Santos. Arimatéa Souza, mais parecendo um capitão corsário. Rossélio Marinho, nos sobressaltos na área econômica. Ana Lúcia, um toque de delicadeza. E os demais, da safra nova, com os quais tenho pouco contato. E o “presidente” Itamar, a quem importuno, na busca dos Painéis, que remeto para as editoras do País. São 27 anos de Jornal da Paraíba. De Humberto Almeida a Ricardo Carlos, foi escrita uma história de jornalismo honesto e sério. A maioridade de uma imprensa que nunca teve medo de falar. Um caminho de resistência ao meio termo. A boca escancarada da opinião. O intéprete de um povo acostumado a falar o que quer, que não baixa o cangote, nem se amofina. Vinte e sete anos que honram a todos nós.
Eu me amancebei com o Jornal da Paraíba. Nunca me importei com os salários, porque as máquinas, o cheiro da tinta, as impressoras, as notícias, as reportagens, eram-me coisas vivas, entrenhando-se na alma como chuva na terra seca. Foi onde me fertilizei. Muitos do meu tempo, estão habitantes da vida. Outros se foram. Seus nomes estão na minha saudade e nas gotas das minhas lágrimas. Deixaram-me lições de vida, de amizade, de carinho. Se me fosse dada a aventura de recriar, eu inventaria um grande jornal, traria todos de volta, para reviver a alegria de acalentar a imagem dos olhos e me perder na loucura de um grande abraço.
Mas não é tão descabido, assim, o meu sonho. Do batente de um jornal, ninguém se vai. Como não se foram Ana Luíza, Alberto Queiroz, Tarcísio Cartaxo, Clóvis de Melo...Como não se foi ninguém. Como um jornal não vai embora. E, na sua maioridade, o Jornal da Paraíba é a soma de todos. Esse aniversário é muito meu. Porque também nasci num mês chamado setembro. Porque somos filhos do mesmos sonho, porque nos vestimos nas mesmas páginas, porque falamos a mesma língua, porque os nossos caminhos se cruzaram, além de nossas vontades, amarrados em nossos destinos.

Fonte: 
http://jornaldaparaiba.com.br/blog/jpdebates/post/12274_jornal-da-paraiba--meu-abraco-

*Marcos Maracajá é primo de Robério, residente em Recife: Poeta, Advogado, Escritor.


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